A OpenAI quer transformar o ChatGPT em canal de publicidade. Uma vaga publicada pela empresa busca engenheiro especializado em marketing pago para desenvolver infraestrutura de anúncios.
Essa movimentação ocorre em momento delicado: 700 milhões de pessoas usam a ferramenta semanalmente, mas a empresa ainda busca um modelo de monetização sustentável. Com avaliação de US$ 300 bilhões e pressão de investidores, a OpenAI enxerga na publicidade uma possível fonte de US$1 bilhão em receita anual.
No entanto, a estratégia colide com o grande ativo da plataforma: a confiança dos usuários em respostas neutras e imparciais. Pesquisas mostram que 30% já confiam mais no ChatGPT que em buscadores tradicionais.
Esse dilema é complexo. Interfaces conversacionais não foram projetadas para comportar anúncios da mesma forma que páginas de busca. WhatsApp e Telegram evitaram publicidade em conversas por anos, reconhecendo que isso comprometeria a experiência. Agora, a OpenAI precisa decidir se mantém a vantagem que a tornou líder ou segue o caminho tradicional de geração de receita na internet.
A construção da estrutura publicitária
De acordo com a vaga publicada pela OpenAI, o novo engenheiro será responsável por desenvolver APIs, pipelines de dados e frameworks de experimentação para otimizar investimentos em publicidade. A descrição menciona a criação de ferramentas de gerenciamento de campanhas e integração com as principais plataformas de anúncios.
Fidji Simo, chefe de aplicações da OpenAI, lidera a busca por profissionais para estruturar essa nova divisão. Por sua vez, a empresa planeja permitir que marcas definam objetivos e deixem o ChatGPT planejar, comprar e mensurar campanhas de forma autônoma. Essa abordagem representaria uma evolução em relação aos modelos publicitários atuais.
Além disso, a infraestrutura em desenvolvimento sugere um sistema de atribuição e relatórios em tempo real. A empresa também está construindo frameworks de experimentação para otimizar objetivos de marketing. Essas capacidades técnicas indicam que a OpenAI pretende competir com gigantes estabelecidas no mercado de mídia paga.
O paradoxo da monetização da IA conversacional
A ausência de anúncios sempre foi vantagem competitiva do ChatGPT. Enquanto o Google integra publicidade em suas respostas de IA através do AI Mode, o ChatGPT manteve experiência focada em fornecer informações úteis. Essa diferença contribuiu para que usuários desenvolvessem maior confiança na plataforma da OpenAI.
Por outro lado, plataformas de mensagens como WhatsApp e Telegram historicamente evitaram anúncios dentro das conversas. O WhatsApp optou por não monetizar recursos básicos para manter o aplicativo como um espaço de comunicação simples. Quando introduziu publicidade em 2025, limitou-a aos Status, preservando o fluxo de conversas.
Já o modelo conversacional cria expectativas diferentes. Dados mostram que 77% dos americanos utilizam o ChatGPT como mecanismo de busca, com 24% preferindo iniciar pesquisas na plataforma. Essa migração ocorreu porque os usuários valorizam respostas diretas, sem necessidade de filtrar conteúdo promocional entre resultados orgânicos.
Lições do experimento publicitário do Google
Enquanto isso, o Google enfrenta críticas pela inserção de anúncios em seu AI Mode. A empresa apresentou a novidade para agências americanas como parte de sua “experiência de busca com IA mais poderosa”. Porém, a integração de publicidade nas respostas geradas por inteligência artificial tem gerado ceticismo no mercado.
A abordagem do Google difere dos anúncios tradicionais de busca. As publicidades surgem integradas ao conteúdo das respostas, tanto abaixo quanto dentro do texto gerado. Essa estratégia compromete a percepção de neutralidade que usuários esperam de assistentes inteligentes. Com isso, criando desconfiança sobre a imparcialidade das informações.
Nesse sentido, o risco para a OpenAI é repetir esses erros. Anúncios em plataformas conversacionais podem parecer “aquele amigo que sempre tem algo para vender mas em quem ninguém confia”. Essa percepção afastaria usuários que tratam o ChatGPT como conselheiro confiável para decisões importantes.
Crescimento acelerado e pressão por receitas
O ChatGPT alcançou 700 milhões de usuários ativos semanais em setembro de 2025, um crescimento de 4 vezes em relação ao ano anterior. A plataforma processa 18 bilhões de mensagens semanalmente e está presente em 92% das empresas Fortune 500. Os números demonstram adoção em escala global sem precedentes para ferramentas de IA.
Apesar do sucesso, a OpenAI enfrenta desafios financeiros. Os custos operacionais para manter infraestrutura computacional são altos, exigindo formas sustentáveis de monetização. Com cinco milhões de assinantes empresariais pagantes, a receita atual não justifica a avaliação bilionária da empresa.
Dessa forma, a pressão intensifica-se após levantar US$40 bilhões em março de 2025. A OpenAI precisa demonstrar caminhos para retorno financeiro aos investidores. A monetização através de anúncios surge como solução óbvia, embora arriscada para a reputação construída até agora.
Descoberta de marcas e influência nas decisões
As pesquisas revelam que 36% dos usuários descobriram produtos ou marcas através do ChatGPT. Entre a Geração Z, o percentual sobe para 47%. As menções surgem no contexto das respostas, diferentemente dos anúncios tradicionais, gerando percepção de maior credibilidade e relevância.
Essa dinâmica cria oportunidades e desafios únicos. Marcas reconhecem o valor de aparecer em respostas contextualizadas, mas a inserção forçada de conteúdo promocional destruiria a confiança. O equilíbrio entre monetização e integridade das respostas será fundamental para o sucesso do modelo.
Portanto, a OpenAI precisa considerar que usuários buscam o ChatGPT justamente pela ausência de viés comercial. Se desenvolver modelo publicitário que preserve a integridade das respostas, estabelecerá novo padrão. Caso contrário, perderá sua vantagem competitiva mais valiosa.
Implicações para o futuro das buscas
A decisão da OpenAI definirá o direcionamento do mercado de IA conversacional. Manter o ChatGPT livre de anúncios consolida a plataforma como alternativa confiável aos buscadores tradicionais. No entanto, isso exigiria modelos alternativos de monetização ainda não testados em escala.
Vale ressaltar que o tráfego via IAs cresceu 527% nos Estados Unidos entre janeiro e maio de 2025. Essa aceleração indica mudança estrutural no comportamento de busca. A inserção de publicidade pode frear essa tendência, devolvendo usuários aos mecanismos tradicionais.
Por outro lado, a coexistência entre modelos será o cenário provável no médio prazo. Cada plataforma precisará encontrar seu equilíbrio entre monetização e experiência. Usuários demonstram disposição para pagar por experiências sem anúncios, mas a viabilidade desse modelo para bases massivas permanece incerta.
O momento decisivo para a OpenAI
Atualmente, a empresa encontra-se em encruzilhada estratégica. Pode preservar a experiência que conquistou centenas de milhões de usuários ou seguir o caminho tradicional da publicidade digital. A contratação de especialistas em plataformas publicitárias sugere que a decisão interna já foi tomada.
Assim, a implementação determinará o sucesso da estratégia. O desafio supera questões técnicas e atinge a percepção pública sobre a plataforma. Sam Altman reconhece os riscos em declarações cautelosas, mas a pressão financeira pode falar mais alto que preocupações com experiência do usuário.
Em suma, a OpenAI precisará inovar não apenas em inteligência artificial, mas em modelos de negócio. O futuro do ChatGPT como ferramenta confiável depende dessa decisão. Em última análise, os usuários determinarão se aceitam trocar neutralidade por gratuidade, definindo os rumos da IA conversacional.
