O Brasil possui condições únicas para se tornar líder mundial no uso de inteligência artificial. A afirmação vem de Ronnie Chatterji, economista-chefe da OpenAI, em entrevista à revista Exame.
Segundo o executivo, a combinação de posição geográfica, escala populacional e nível de adoção tecnológica coloca o país em posição privilegiada no cenário global. Os dados confirmam essa perspectiva.
O Brasil já ocupa a terceira posição mundial em número de usuários do ChatGPT, atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia. São aproximadamente 140 milhões de mensagens enviadas diariamente à plataforma. Essa adoção demonstra uma integração da tecnologia no cotidiano brasileiro.
Tal integração reflete tanto a juventude conectada do país quanto a busca por soluções que aumentem a produtividade em diversos setores. A velocidade de implementação impressiona quando observamos os números corporativos.
Atualmente, 9 milhões de empresas brasileiras utilizam inteligência artificial de forma sistemática, representando 40% de todas as empresas do país. Esse crescimento de 29% em relação ao período anterior significa que mais de três empresas implementam IA por minuto no Brasil. Entre as organizações que adotaram a tecnologia, 95% relatam aumento de receita, com crescimento médio de 31%.
A transformação empresarial em ritmo acelerado
As aplicações práticas já se consolidaram em diversas áreas. O atendimento ao cliente lidera com 66% de adoção, seguido pelo treinamento de funcionários com 59% e pelo desenvolvimento de produtos com 56%. Esses números revelam que a IA deixou de ser experimental para se tornar ferramenta essencial nas operações empresariais.
Além disso, 96% das empresas que implementaram a tecnologia observaram melhorias na produtividade. O ecossistema de startups demonstra ainda maior maturidade tecnológica. Enquanto apenas 12% das empresas tradicionais atingiram estágios avançados de implementação, 29% das startups já utilizam aplicações avançadas da ferramenta.
Mais da metade das startups brasileiras, precisamente 53%, aproveitam IA em seus negócios. Desse total, 31% desenvolvem produtos baseados na tecnologia e 37% empregam talentos especializados na área.
Por sua vez, o investimento governamental reforça esse movimento. O Plano Brasileiro de Inteligência Artificial prevê R$23 bilhões em investimentos nos próximos quatro anos. Paralelamente, o setor privado amplia seus compromissos, com a Amazon anunciando R$10,1
As barreiras estruturais desafiam o avanço
Apesar do avanço considerável, obstáculos importantes ainda limitam o potencial brasileiro. A falta de habilidades digitais afeta 46% das empresas, criando um gargalo crítico para a expansão do uso de IA. Essa lacuna de capacitação impede que organizações avancem para aplicações mais avançadas, mantendo muitas presas a usos básicos da tecnologia.
Os custos de conformidade regulatória consomem US$24 de cada US$100 investidos em IA, representando uma carga substancial para empresas de todos os portes. Esse percentual elevado desestimula investimentos, especialmente entre pequenas e médias empresas que operam com margens mais apertadas.
Além disso, apenas 28% das empresas conhecem os debates regulatórios em andamento, evidenciando uma desconexão entre o setor produtivo e as discussões sobre marcos legais. A incerteza regulatória amplifica essas dificuldades.
Nesse cenário, o Projeto de Lei 2338/2023, ainda em tramitação no Congresso, busca estabelecer diretrizes para uso ético e seguro da tecnologia. No entanto, a demora na aprovação mantém o ambiente de negócios em suspense, com 40% das empresas citando custos iniciais percebidos como barreira principal para adoção.
As perspectivas para liderança global
O otimismo empresarial sustenta projeções positivas. Com 89% das empresas esperando que a IA acelere crescimento em 2025 e 85% antecipando economia de custos, o ambiente favorece investimentos continuados. Essa confiança, combinada com a escala do mercado brasileiro e sua população jovem e conectada, cria condições únicas para desenvolvimento acelerado.
A posição do Brasil como terceiro maior usuário global do ChatGPT demonstra capacidade de adoção rápida de novas tecnologias. Essa característica, historicamente observada em outras transformações digitais, sugere que o país pode efetivamente assumir protagonismo no uso da ferramenta.
No entanto, converter esse potencial em liderança efetiva exigirá ações coordenadas entre governo, empresas e instituições educacionais. O desenvolvimento de talentos emerge como prioridade absoluta. Sem profissionais capacitados, o país não conseguirá avançar além de aplicações básicas de IA.
Programas de capacitação em larga escala, parcerias entre universidades e empresas, e incentivos para formação técnica serão essenciais. Além disso, a atração e retenção de talentos internacionais pode acelerar a transferência de conhecimento e experiência.
O caminho para a consolidação
A trajetória do Brasil rumo à liderança em IA dependerá da capacidade de superar desafios estruturais mantendo o ritmo de adoção. O marco regulatório precisa equilibrar proteção e inovação, criando segurança jurídica sem impor barreiras excessivas.
Paralelamente, os investimentos em infraestrutura digital devem continuar expandindo, especialmente em regiões menos desenvolvidas. A colaboração internacional também será crucial. Parcerias com centros globais de pesquisa, transferência de tecnologia e participação em iniciativas multilaterais podem acelerar o desenvolvimento nacional.
O Brasil precisa posicionar-se não apenas como consumidor, mas como desenvolvedor de soluções em IA adaptadas às realidades locais e regionais. O momento atual representa uma janela de oportunidade única.
Com investimentos confirmados, adoção empresarial acelerada e apoio governamental, o país possui elementos fundamentais para concretizar a visão apresentada por Chatterji. Contudo, o sucesso dependerá da execução coordenada de políticas públicas, investimentos privados e desenvolvimento de capital humano.
Finalmente, a transformação de potencial em realidade exigirá esforços sustentados e visão de longo prazo. Os dados atuais sugerem que o Brasil está no caminho certo para se tornar referência global no uso de inteligência artificial.