O Google anunciou o lançamento do Preferred Sources, uma funcionalidade que permite aos usuários escolher quais veículos de comunicação desejam ver com maior frequência na seção Top Stories dos resultados de busca.
A nova funcionalidade surge em um momento de tensão crescente entre o Google e os publishers, que relatam quedas significativas no tráfego orgânico desde a implementação da AI Overview. Estudos recentes indicam reduções de até 47% nos cliques para links orgânicos quando resumos gerados por inteligência artificial aparecem nos resultados de busca.
O contexto dessa implementação reflete uma tendência que antecede a chegada das ferramentas de inteligência artificial. O CTR (Click-Through Rate) do Google vem apresentando declínio consistente ao longo dos anos, impulsionado pela expansão de recursos como featured snippets, knowledge panels e uma presença crescente de anúncios na SERP. A AI Overview representa uma intensificação dessa dinâmica, mas não sua origem.
Como funciona o Preferred Sources
A funcionalidade permite que usuários selecionem um ou mais veículos que devem aparecer com maior frequência quando possuem cobertura relevante e atualizada sobre determinado tópico. O sistema cria uma seção dedicada chamada “From your sources” nos resultados de busca, mantendo a diversidade de fontes característica do Top Stories.
Para ativar o recurso, o usuário deve buscar por um tópico que esteja em evidência nas notícias, tocar no ícone localizado à direita do cabeçalho Top Stories, selecionar os veículos desejados e atualizar os resultados. As configurações podem ser modificadas a qualquer momento, e usuários que participaram dos testes beta através do Google Labs terão suas seleções anteriores preservadas.
Durante os testes iniciais, mais da metade dos participantes escolheu quatro ou mais fontes preferenciais. Esse comportamento sugere que os usuários valorizam tanto a variedade quanto a confiabilidade das fontes de informação, buscando um equilíbrio entre diversidade editorial e familiaridade com determinados veículos.
A ferramenta está sendo implementada nos Estados Unidos e na Índia, com disponibilidade inicial em inglês.
Implicações estratégicas para publishers
O Preferred Sources cria um canal direto para que veículos de comunicação incentivem suas audiências leais a aumentar sua visibilidade nos resultados de busca. Publishers com bases de leitores engajadas podem orientar seus seguidores sobre como configurar suas publicações como fontes preferenciais, potencialmente aumentando sua presença quando produzem conteúdo relevante.
Essa dinâmica reforça a importância da retenção de audiência e do relacionamento direto com leitores. Veículos que investem em newsletters, programas de fidelidade e canais de comunicação próprios podem ter vantagens na adoção dessa funcionalidade por parte de seus públicos.
A personalização adiciona uma nova camada aos fatores tradicionais de ranqueamento, mas mantém a premissa de que a relevância e a atualidade do conteúdo continuam sendo determinantes. O Google enfatiza que a diversidade de perspectivas permanece preservada no Top Stories, com fontes preferenciais aparecendo com maior frequência apenas quando possuem cobertura nova e pertinente.
Contexto da pressão dos publishers
A implementação do Preferred Sources ocorre em meio a preocupações crescentes do setor editorial sobre o impacto da AI Overview no tráfego orgânico. Dados da Ahrefs mostram que quando resumos de IA aparecem nos resultados, o primeiro link orgânico perde em média 34,5% dos cliques. Para termos que frequentemente acionam AI Overviews, a queda no CTR foi de 7,3% para 2,6% entre março de 2024 e março de 2025.
Contudo, essa redução no tráfego de referência representa uma aceleração de uma tendência histórica. O Google vem expandindo consistentemente os recursos que fornecem respostas diretas na SERP, reduzindo gradualmente a necessidade de cliques externos. A SparkToro identificou que, em 2024, apenas 360 de cada 1.000 buscas nos Estados Unidos resultaram em cliques para sites que não pertencem ao Google ou não são anunciados pela plataforma.
O fenômeno reflete uma mudança estrutural nos hábitos de consumo de informação. Usuários, especialmente em segmentos B2B e demografias mais jovens, demonstram preferência crescente por respostas imediatas e sínteses de informação, em detrimento da navegação tradicional entre múltiplos sites.
Adaptação ao novo ecossistema de busca
O lançamento do Preferred Sources ilustra a evolução contínua do ecossistema de busca, onde personalização e inteligência artificial remodelam a descoberta de conteúdo. Publishers precisam reconhecer que o tráfego orgânico tradicional continuará enfrentando pressões estruturais, independentemente de funcionalidades específicas.
A estratégia mais sustentável envolve diversificação de canais de aquisição e fortalecimento do relacionamento direto com audiências. Isso inclui investimentos em newsletters, notificações push, redes sociais próprias e outras formas de comunicação que não dependem exclusivamente dos algoritmos de busca.
Além disso, a produção de conteúdo deve considerar tanto a otimização para mecanismos de busca tradicionais quanto a adequação aos novos formatos de consumo de informação. Conteúdos que funcionam bem em resumos de IA, mantendo valor suficiente para incentivar cliques, representam um equilíbrio estratégico necessário.
O Preferred Sources não resolve as tensões fundamentais entre plataformas de busca e publishers, mas oferece um mecanismo adicional para veículos que conseguem mobilizar suas audiências. O sucesso na implementação dessa funcionalidade dependerá da capacidade dos publishers de integrar essa ferramenta a estratégias mais amplas de relacionamento com leitores e diversificação de canais de distribuição.
