O lançamento do GPT-5, prometia entregar inteligência artificial em nível de doutorado e representar um salto qualitativo significativo em relação ao GPT-4.
No entanto, o que se seguiu foi uma das maiores decepções na história recente do setor de IAs. E também culminou em uma revolta dos usuários e no retorno forçado de modelos anteriores.
O episódio revela problemas estruturais na forma como a OpenAI gerencia expectativas e entrega produtos. Mais do que um simples tropeço técnico, o caso GPT-5 expõe uma empresa que se acostumou a surfar na onda do hype, mas falhou em entregar avanços proporcionais às promessas feitas.
A decepção não se limitou aos usuários finais. O mercado também reagiu com ceticismo, questionando se a OpenAI ainda mantém sua posição de liderança tecnológica. Há quem diga que a criadora do GPT está perdendo terreno para concorrentes que lançaram modelos mais competitivos na mesma semana — Google e Anthropic.
A promessa que não se cumpriu
Sam Altman, CEO da OpenAI, construiu uma narrativa grandiosa em torno do GPT-5. Em coletivas de imprensa, comparou o modelo ao primeiro iPhone e chegou a postar uma imagem da Estrela da Morte nas redes sociais. A empresa descreveu o GPT-5 como seu “melhor sistema de IA” e um “salto significativo em inteligência”.
Contudo, quando os usuários finalmente tiveram acesso ao modelo, a realidade foi bem diferente. O GPT-5 apresentou erros básicos que seus antecessores não cometiam, como insistir que a palavra “blueberry” contém três letras “b” ou rotular incorretamente estados americanos em mapas com nomes inventados como “New Jefst” e “Miroinia”.
Além disso, usuários relataram que o modelo se tornou mais austero e distante em conversas, perdendo a naturalidade que caracterizava versões anteriores. O problema central não foi apenas técnico, mas de posicionamento.
A OpenAI removeu a opção de escolha entre modelos, forçando usuários pagantes a utilizar exclusivamente o GPT-5. Essa decisão quebrou fluxos de trabalho estabelecidos e eliminou a possibilidade de usuários cruzarem informações entre diferentes modelos para verificar respostas e detectar alucinações.
A revolta dos usuários e o recuo forçado
A reação foi imediata e contundente. Usuários do ChatGPT Plus, que pagam US$20 mensais pelo serviço, iniciaram uma revolta online que incluiu cancelamentos massivos de assinaturas e petições públicas.
O descontentamento é compreensível: profissionais que dependiam da ferramenta para trabalho viram suas rotinas interrompidas por um modelo que, em muitos aspectos, performava pior que seu antecessor.
A situação se tornou insustentável quando Sam Altman precisou fazer um mea culpa público no X e anunciar o retorno do GPT-4o como opção para usuários pagantes. A empresa também aumentou drasticamente os limites de uso do GPT-5, de algumas centenas para 3.000 consultas semanais, numa clara tentativa de apaziguar a base de clientes revoltada.
Esse episódio demonstra que, mesmo no setor de IA, onde o hype muitas vezes supera a realidade, existe um limite para o que os consumidores estão dispostos a aceitar.
A concorrência aproveitou o momento
O timing do fracasso do GPT-5 não poderia ter sido pior para a OpenAI. Na mesma semana, tanto a Anthropic quanto o Google lançaram atualizações significativas de seus modelos de IA, criando um contraste ainda mais evidente com os problemas enfrentados pelo GPT-5.
A Anthropic apresentou o Claude Opus 4.1, focado especialmente em capacidades de programação, enquanto o Google lançou o Gemini 2.5 Deep Think, destacando sua habilidade de analisar múltiplas hipóteses simultaneamente.
Ambos os modelos receberam avaliações mais positivas da comunidade técnica. Muitos desenvolvedores relataram preferir o Claude Opus 4.1 para tarefas de codificação, apesar de seu preço mais elevado.
Essa convergência de lançamentos evidenciou que a corrida pela supremacia em IA se intensificou significativamente. Enquanto a OpenAI lutava contra problemas de percepção e qualidade, seus principais concorrentes conseguiram posicionar seus produtos como alternativas mais confiáveis e eficazes.
O mercado reagiu de forma correspondente. Análises comparativas independentes começaram a classificar o Gemini 2.5 Pro à frente do GPT-5 em diversos aspectos, enquanto o Claude Opus 4.1 se estabeleceu como referência para desenvolvimento de software.
O que explica o fracasso
O problema do GPT-5 vai além de questões técnicas pontuais. A OpenAI criou uma narrativa de revolução tecnológica que seus engenheiros simplesmente não conseguiram entregar.
Parte da explicação reside na própria arquitetura do GPT-5, que funciona como um sistema de roteamento entre múltiplos modelos especializados, em vez de ser um modelo único e coeso. Esse approach, embora teoricamente interessante, criou inconsistências na experiência do usuário e falhas no mecanismo de decisão sobre qual modelo utilizar para cada consulta.
Além disso, a empresa parece ter priorizado métricas internas e benchmarks técnicos em detrimento da experiência prática dos usuários. O GPT-5 pode ter performado bem em testes controlados, mas falhou em entregar a fluidez e naturalidade que os usuários esperavam de um modelo de nova geração.
Com a concorrência se intensificando e investidores cobrando resultados, a OpenAI parece ter acelerado o cronograma de lançamento antes que o produto estivesse verdadeiramente pronto para uso em larga escala.
O futuro da IA permanece em aberto
O fracasso do GPT-5 levanta questões importantes sobre o ritmo de desenvolvimento da inteligência artificial. Por anos, a narrativa dominante sugeriu que cada nova geração de modelos representaria saltos exponenciais em capacidade e utilidade. O GPT-5 demonstra que essa progressão pode não ser tão linear quanto se imaginava.
Isso não significa que o desenvolvimento da IA estagnou, mas sim que estamos entrando numa fase de maturação onde os avanços podem ser mais incrementais e especializados. Os ganhos futuros provavelmente virão de otimizações específicas, redução de custos e melhor integração com fluxos de trabalho existentes, em vez de revoluções tecnológicas dramáticas.
Para empresas que dependem de IA em suas operações, o episódio do GPT-5 serve como lembrete: mantenha a diversificação de fornecedores e não aposte todas as fichas em uma única solução.
A competição é ótima para os usuários
A competição entre OpenAI, Anthropic, Google e outros players beneficia o mercado como um todo, forçando cada empresa a entregar valor real em vez de apenas promessas.
O caso também destaca a crescente sofisticação dos usuários de IA, que não estão mais dispostos a aceitar produtos inferiores apenas porque carregam o selo de uma empresa famosa. Essa maturidade do mercado consumidor força as empresas a focarem na qualidade e utilidade prática, em vez de apenas no marketing e hype.
A OpenAI aprenderá com este tropeço e provavelmente retornará com produtos mais sólidos no futuro. Contudo, sua posição de liderança inquestionável no setor começa a ser questionada. O futuro da IA será moldado por uma competição mais equilibrada, onde a qualidade do produto importa mais que a capacidade de gerar expectativas.