A Meta anunciou que começará a utilizar as conversas dos usuários com seu assistente de inteligência artificial para direcionar anúncios e conteúdos personalizados.
Com 1 bilhão de usuários mensais do Meta AI, segundo os dados da empresa, a plataforma terá acesso a informações muito detalhadas sobre os interesses, as necessidades e os comportamentos dos consumidores. Diferentemente dos dados coletados através de cliques e interações nas redes sociais, as conversas com os chatbots revelam intenções diretas e problemas específicos que os usuários buscam resolver.
Além disso, essa transformação ocorre em um momento decisivo para o mercado publicitário brasileiro. A Meta já havia anunciado um aumento de 12,15% nos custos de publicidade no Facebook e Instagram a partir de janeiro de 2026, devido ao repasse de tributos como PIS/COFINS e ISS aos anunciantes.
O fim da privacidade digital
O uso de conversas com a IA para publicidade direcionada marca o fim de qualquer barreira entre a vida privada e os dados comercializáveis. Muitos usuários utilizam os chatbots para discussões sensíveis sobre saúde, relacionamentos e finanças, acreditando estar em um ambiente confidencial. No entanto, essas interações íntimas agora alimentarão os algoritmos publicitários.
Por outro lado, a Meta afirma que não direcionará anúncios baseados em conversas sobre orientação sexual, visões políticas ou condições de saúde. Contudo, a linha entre o que é considerado sensível e o que pode ser comercializado permanece imprecisa.
A empresa já enfrentou críticas após usuários compartilharem inadvertidamente conversas privadas com o chatbot em feeds públicos. Essa falta de transparência sobre como os dados serão processados e armazenados cria um ambiente de desconfiança.
O ciclo vicioso do aumento de custos em mídia paga
A introdução de novos recursos de segmentação pela Meta segue um padrão preocupante no mercado de publicidade digital. Cada nova funcionalidade promete maior precisão e melhores resultados, mas invariavelmente resulta em custos mais elevados para os anunciantes. Os dados recentes mostram que o custo por lead no Facebook Ads subiu 21% apenas em 2025.
Esse novo sistema de segmentação baseado em IA provavelmente seguirá a mesma trajetória. Inicialmente, pode oferecer vantagem competitiva para as empresas pioneiras, mas rapidamente se tornará o padrão mínimo esperado. Com isso, os custos continuarão subindo enquanto o retorno sobre o investimento diminui progressivamente.
Além disso, o mercado brasileiro já opera com margens apertadas devido à pressão econômica. As pequenas e médias empresas, que representam a maioria dos anunciantes, enfrentarão dificuldades ainda maiores para competir em um ambiente onde o custo de aquisição de clientes cresce exponencialmente.
A urgência da diversificação estratégica
Diante desse cenário, a diversificação deixou de ser opcional para se tornar uma necessidade empresarial. O investimento em marketing orgânico, especialmente em SEO e GEO (Generative Engine Optimization), surge como alternativa sustentável e ética. Essas estratégias não apenas reduzem a dependência de plataformas externas como também constroem ativos digitais duradouros.
Enquanto isso, o SEO continua sendo fundamental para capturar a demanda existente nos buscadores tradicionais. Já o GEO prepara as empresas para o futuro das buscas, otimizando o conteúdo para ser reconhecido e citado por inteligências artificiais generativas como ChatGPT e Gemini. Essa abordagem dupla garante visibilidade tanto no presente quanto no futuro do marketing digital.
Os dados da Conversion indicam que entre 80% e 90% do tráfego que gera conversões para as médias e grandes empresas tem origem em buscas relacionadas à marca. Isso demonstra que investir em autoridade orgânica e reconhecimento de marca oferece retornos mais consistentes do que depender exclusivamente da publicidade paga.
Preparando-se para o futuro pós-publicidade tradicional
A nova politica da Meta representa apenas o início de uma transformação mais ampla no marketing digital. Com o avanço das IAs e as mudanças no comportamento do consumidor, o modelo tradicional de publicidade baseada em interrupção está chegando ao fim. As empresas precisam se preparar para um futuro onde a relevância e o valor genuíno determinarão o sucesso.
Investir em SEO e GEO não significa abandonar completamente a publicidade paga, mas sim criar um portfólio equilibrado de estratégias. Essa abordagem híbrida permite aproveitar as oportunidades de curto prazo enquanto constrói fundamentos sólidos para o crescimento sustentável. A chave está em reduzir gradualmente a dependência das plataformas externas.
Por fim, o mercado brasileiro tem a oportunidade de liderar essa transição na América Latina. Com profissionais qualificados e um ecossistema digital em amadurecimento, o país pode desenvolver modelos próprios de marketing sustentável. Isso requer, no entanto, coragem para questionar as práticas estabelecidas e investir em estratégias de médio e longo prazo.