Sam Altman, CEO da OpenAI, emitiu um memorando interno declarando “code red” para mobilizar recursos na melhoria do ChatGPT.
A medida, revelada pelo Wall Street Journal, marca a primeira vez que a empresa reconhece estar em posição defensiva desde o lançamento do chatbot em 2022. O movimento acontece enquanto o Google consolida avanços técnicos com o Gemini 3, que superou o ChatGPT em testes de referência importantes da indústria.
A declaração de emergência resulta em pausas nos projetos planejados. A OpenAI adiou o lançamento de sua plataforma de publicidade, prevista para 2026, além das iniciativas em agentes de IA para saúde e compras. O assistente pessoal Pulse também teve seu desenvolvimento suspenso. Todos os recursos agora convergem para um objetivo: melhorar a personalização, velocidade, confiabilidade e capacidade de resposta do ChatGPT.
Os dados de mercado explicam a urgência. O Gemini cresceu de 450 milhões para 650 milhões de usuários ativos mensais entre julho e outubro de 2025. No mesmo período, o ChatGPT perdeu 6% de sua base de usuários. Já o Gemini 3 alcançou 1.501 pontos no LMArena, tornando-se o primeiro modelo a ultrapassar a barreira dos 1.500 pontos.
A competição intensifica-se em momento delicado para a OpenAI. A empresa projeta queima de caixa superior a US$ 00 bilhões nos próximos anos, mantendo-se dependente de rodadas contínuas de financiamento. O Google, por outro lado, alocou US$75 bilhões em desenvolvimento de IA apenas em 2025, demonstrando capacidade financeira para sustentar uma competição prolongada.
A inversão histórica de papéis na corrida de IA
A mudança de paradigma na corrida tecnológica tornou-se evidente com esta declaração de emergência. A declaração de “code red” da OpenAI inverte a dinâmica competitiva estabelecida três anos atrás.
Em dezembro de 2022, foi o Google que acionou seu próprio código vermelho interno após o lançamento viral do ChatGPT. Sundar Pichai, CEO da empresa, convocou os fundadores Larry Page e Sergey Brin para reuniões de produto após anos de afastamento.
O que se seguiu foi uma mobilização sem precedentes. O Google acelerou os planos para adicionar recursos conversacionais à busca, apresentou mais de 20 novos produtos de IA em slides internos vazados e demonstrou uma versão do Search alimentada por chatbot. A resposta da empresa consolidou-se ao longo de 2025 com o Gemini 3.
Agora, os papéis se invertem completamente. A OpenAI, que forçou o Google a reagir em 2022, encontra-se pela primeira vez respondendo aos movimentos de um competidor. O memorando interno de Altman menciona “vibes pesadas” que a empresa enfrentará nos próximos meses, reconhecendo a necessidade de “alcançar” o Google.
A inversão não resulta apenas dos avanços técnicos do Google. Além disso, reflete as vantagens estruturais que a OpenAI, operando como startup, enfrenta dificuldade para replicar. O ecossistema integrado do Google, a base de dados da busca e os recursos criam barreiras competitivas que transcendem as métricas de desempenho de modelos individuais.
Primeira vez que a OpenAI opera em posição defensiva
A mudança estratégica representa uma ruptura com o padrão de liderança mantido desde 2022. Desde o lançamento do ChatGPT em novembro de 2022, a OpenAI manteve a posição de liderança no mercado de IA generativa.
A empresa estabeleceu o padrão para interfaces conversacionais, forçou os competidores a acelerar desenvolvimentos e definiu as expectativas dos usuários. O ChatGPT tornou-se sinônimo de IA generativa para o público geral.
Esta posição permitiu que a empresa operasse em modo ofensivo, ditando o ritmo de inovação. Os lançamentos do GPT-4, GPT-4o e GPT-5.1 aconteceram segundo cronograma interno, sem pressão externa. A OpenAI escolhia quando e como inovar, mantendo os competidores em posição reativa.
O memorando de Altman representa uma ruptura com esse padrão. Pela primeira vez, a empresa reconhece estar reagindo aos movimentos dos competidores. A linguagem utilizada no documento interno, obtido pelo The Information, indica uma urgência inédita. Termos como “code red” e referências a “clima pesado” contrastam com a confiança demonstrada anteriormente.
Por sua vez, a posição defensiva manifesta-se nas decisões operacionais. A pausa nos projetos de monetização e novos produtos indica a priorização da qualidade do produto principal sobre a expansão. Esta estratégia difere da abordagem expansionista que caracterizou a empresa nos últimos dois anos. O foco concentra-se em reconquistar a vantagem técnica perdida.
Os números que explicam o estado de emergência
As métricas técnicas revelam dados preocupantes para a liderança da OpenAI. Os testes de referência técnicos revelam a extensão do avanço do Google. No teste ARC-AGI 2, o Gemini 3 alcançou 38% de precisão, enquanto o GPT-5.1 registrou 17,6%. Esta diferença representa mais que o dobro de desempenho em tarefas que exigem compreensão profunda e capacidade de generalização.
A velocidade de processamento também favorece o modelo do Google. O Gemini 3 processa 120 tokens por segundo, comparado aos 87 tokens do GPT-5.1. Esta vantagem traduz-se em experiências mais fluidas para os usuários e menor custo operacional por consulta, fatores determinantes para a adoção empresarial em escala.
No teste GPQA Diamond, que avalia conhecimento em nível de doutorado, o Gemini 3 atinge 91,9% de precisão. O Humanity’s Last Exam registra 37,5% de acerto sem ferramentas auxiliares. Com o modo Deep Think ativado, esses números sobem para 93,8% e 41,0%, superando modelos especializados em raciocínio como o o3 da OpenAI.
Enquanto isso, o crescimento de usuários adiciona pressão competitiva. O ecossistema Gemini saltou de 450 milhões para 650 milhões de usuários ativos mensais em três meses. O ChatGPT mantém 75% do mercado de chatbots de IA, mas sua participação nas buscas permanece em 4,33%, contra 83,54% do Google.
A pausa na publicidade como decisão estratégica inteligente
A priorização da qualidade sobre a monetização demonstra maturidade estratégica em momento de crise. A decisão de pausar o desenvolvimento da plataforma de publicidade do ChatGPT demonstra uma priorização acertada.
A empresa reconhece que a monetização através de anúncios exige um produto robusto e confiável como fundação. Lançar publicidade com qualidade de produto questionada arriscaria comprometer tanto a receita quanto a reputação.
O timing planejado para 2026 indicava que a OpenAI via a publicidade como caminho importante para a lucratividade. Códigos descobertos no aplicativo Android do ChatGPT revelavam referências a “search ad” e “search ads carousel”, sugerindo desenvolvimento avançado da funcionalidade. A pausa não representa o abandono dos planos de longo prazo, mas uma recalibração das prioridades.
A estratégia contrasta com as pressões financeiras evidentes. Com avaliação de US$500 bilhões mas ainda sem lucratividade, a OpenAI enfrenta expectativas dos investidores por demonstração de caminhos para a monetização. Adiar a publicidade neste contexto exige convicção de que a qualidade do produto precede a receita.
Por outro lado, o foco na qualidade alinha-se com o feedback dos usuários sobre o GPT-5.1. O lançamento em agosto de 2025 recebeu críticas por parecer mais frio, menos útil em tarefas simples e cauteloso em excesso. Uma atualização em novembro melhorou a percepção, mas não reverteu a perda de participação de mercado. A pausa nos novos projetos permite concentração em resolver esses problemas.
O ecossistema integrado do Google como diferencial competitivo estrutural
As vantagens do Google transcendem as métricas técnicas e criam barreiras difíceis de superar. A vantagem mais significativa do Google não reside nas métricas dos testes de referência, mas na integração profunda do Gemini com os produtos estabelecidos.
O modelo opera no Google Workspace, processando documentos, planilhas e apresentações com contexto compartilhado. Esta integração permite fluxos de trabalho impossíveis em plataformas isoladas, criando dependência organizacional difícil de reverter.
O Android, presente em bilhões de dispositivos, oferece canal direto para a distribuição do Gemini. O Chrome incorpora as funcionalidades do modelo na experiência de navegação. O YouTube permite análise e geração de conteúdo baseado no maior repositório de vídeos existente. Nenhum competidor possui ativos comparáveis para distribuição e integração.
Além disso, o acesso aos dados de busca do Google fornece outro diferencial estrutural. O Gemini pode acessar informações atualizadas em tempo real através da infraestrutura de busca da empresa, processando 8,5 bilhões de consultas diárias. O ChatGPT depende de parcerias e integrações externas para funcionalidade similar. Esta capacidade de ancoragem de dados reduz as alucinações e aumenta a confiabilidade.
Por fim, a infraestrutura do Google Cloud Platform oferece vantagens operacionais. A empresa controla toda a cadeia de valor, desde os chips TPU customizados até a distribuição final. Este controle vertical reduz custos e permite otimizações que empresas dependentes de infraestrutura terceirizada não conseguem implementar. A OpenAI depende da Microsoft para recursos computacionais, limitando a autonomia operacional.
O ChatGPT permanecerá orgânico por mais tempo: oportunidade para GEO
A ausência de publicidade cria uma janela temporal valiosa para estratégias de otimização. A pausa nos planos de publicidade do ChatGPT cria uma janela de oportunidade para as estratégias de Generative Engine Optimization. Enquanto a plataforma permanece orgânica, as empresas que investem em GEO podem estabelecer autoridade e visibilidade sem competir com anúncios pagos. Esta vantagem temporal permite a construção de presença antes da comercialização futura.
O formato conversacional das IAs limita o espaço para a publicidade tradicional. Os anúncios em plataformas conversacionais arriscam comprometer a credibilidade e a experiência do usuário, diferentemente dos resultados de busca onde os anúncios integram-se organicamente. Esta limitação estrutural valoriza o posicionamento orgânico de forma amplificada comparada ao SEO tradicional.
As empresas que desenvolvem autoridade temática no ChatGPT agora posicionam-se para a dominância quando a plataforma introduzir a publicidade. O histórico de citações, menções e referências em respostas orgânicas estabelece uma fundação de credibilidade que os anúncios futuros dificilmente se replicarão. Os pioneiros de GEO criam vantagem competitiva duradoura.
A Conversion tem documentado que as práticas de GEO incluem a citação de fontes confiáveis, adição de estatísticas verificáveis e incorporação de citações de especialistas. As pesquisas das universidades de Princeton e Georgia Tech demonstraram melhorias de até 40% na visibilidade através dessas técnicas. Com o ChatGPT permanecendo orgânico por período estendido, o retorno sobre investimento em GEO aumenta significativamente.
A batalha permanece em aberto, mas o Google está melhor posicionado
Apesar dos avanços evidentes, a liderança definitiva ainda não está estabelecida. Apesar dos avanços do Google, declarar vitória seria prematuro.
A OpenAI mantém vantagens importantes, começando pelo reconhecimento de marca. O ChatGPT tornou-se sinônimo de IA generativa para o público geral, vantagem de presença mental que transcende as métricas técnicas. Esta associação mental demanda anos para ser construída e não se dissolve rapidamente.
A parceria com a Microsoft oferece recursos e infraestrutura. Embora o Google possua recursos maiores, a Microsoft demonstrou compromisso de longo prazo com a OpenAI através de investimentos superiores a US$13 bilhões. Esta aliança fornece capacidade de competir que startups isoladas não possuiriam.
A base de usuários estabelecida do ChatGPT representa um ativo valioso. Com 700 milhões de usuários ativos semanais, a plataforma possui escala que facilita testes, iterações e melhorias baseadas no feedback real. Esta vantagem de dados de uso, embora menor que a do Google, supera os competidores menores como Anthropic ou Perplexity.
No entanto, o Google opera de posição estruturalmente superior. O ecossistema integrado, os recursos para investimento em IA e o acesso aos dados de busca criam vantagens compostas difíceis de superar. A capacidade demonstrada de mobilizar recursos e executar rapidamente, evidenciada pela evolução do Gemini em 2025, indica que a empresa recuperou o momentum perdido em 2022.
Implicações para empresas e estratégias de marketing digital
A intensificação da competição requer adaptação das estratégias corporativas e de marketing. Para as empresas brasileiras, a intensificação da competição entre OpenAI e Google reforça a importância da diversificação das plataformas de IA.
As organizações que apostaram no ChatGPT precisam avaliar a integração do Gemini nos processos importantes. A dependência de fornecedor único cria vulnerabilidade operacional num mercado caracterizado por mudanças rápidas e competição intensa.
A integração do Gemini com o Google Workspace oferece vantagens para as empresas já investidas nesse ecossistema. A implementação torna-se mais simples e os custos de mudança reduzem-se. Por outro lado, as organizações com customizações do ChatGPT enfrentam custos de migração que podem justificar a manutenção da plataforma atual, ao menos no curto prazo.
A competição beneficia os consumidores através da inovação acelerada e pressão sobre os preços. Ambas as empresas já anunciaram melhorias nos planos gratuitos e reduções de custo nas APIs empresariais. Esta tendência deve continuar enquanto disputam a participação de mercado, criando uma janela favorável para experimentação e adoção de IA em diferentes casos de uso.
Por sua vez, os profissionais de marketing digital precisam preparar estratégias para um ambiente onde múltiplas plataformas de IA coexistem. O GEO, diferentemente do SEO que concentrava-se no Google, exige otimização para diversos sistemas com características distintas. O ChatGPT, o Gemini, o Claude e o Perplexity processam e sintetizam informações de formas diferentes, demandando abordagens adaptadas.
O código vermelho que redefine a corrida de IA
A declaração de emergência marca um ponto de inflexão definitivo na indústria de IA. A declaração de “code red” da OpenAI marca uma inflexão na corrida de IA generativa.
A empresa que forçou o Google a reagir em 2022 agora encontra-se respondendo aos avanços do competidor. Esta inversão demonstra que a liderança tecnológica, mesmo em setores de rápida evolução, não garante dominância. As vantagens estruturais, os recursos e a capacidade de execução determinam os vencedores de longo prazo.
A pausa nos planos de publicidade, embora forçada pelas circunstâncias competitivas, representa uma decisão acertada. A qualidade do produto precede a monetização, especialmente nos mercados onde a confiança e confiabilidade determinam a adoção. A OpenAI reconhece que lançar publicidade com produto de qualidade questionada comprometeria tanto a receita quanto a reputação de longo prazo.
O ecossistema integrado do Google surge como o diferencial competitivo mais significativo que as métricas dos testes de referência. A integração com o Workspace, Android, Chrome e YouTube cria vantagens de distribuição e utilidade que as plataformas isoladas não replicam facilmente. Esta realidade reforça a importância dos ativos complementares na competição tecnológica, não apenas a superioridade técnica isolada.