Um estudo inédito sobre o AI Mode do Google revela número recorde de pesquisas zero-clique e que os cliques vindos das IAs são mais qualificados.
O estudo conduzido por Kevin Indig analisou 37 participantes realizando 250 tarefas específicas no AI Mode. Os resultados redefinem nossa compreensão sobre o comportamento de busca na era da inteligência artificial.
A descoberta mais relevante do estudo é simples e profunda ao mesmo tempo. A mediana de cliques externos por tarefa foi zero. Isso significa que na maioria das interações, os usuários encontraram todas as informações necessárias dentro do próprio AI Mode, sem jamais visitar um site externo.
Esse dado representa uma aceleração da tendência zero-click que vinha se desenvolvendo através de trechos em destaque e painéis de conhecimento.
O comportamento dos usuários revela padrão inédito de consumo de informação
O estudo identificou que aproximadamente 88% das primeiras interações dos usuários acontecem diretamente com o texto gerado pela inteligência artificial. Isso contrasta com o comportamento tradicional de busca, onde os usuários escaneiam títulos e descrições antes de decidir onde clicar. No AI Mode, a leitura acontece primeiro e principalmente dentro da própria interface.
O tempo médio de engajamento dentro do AI Mode variou entre 52 e 77 segundos por tarefa, dependendo da complexidade. Esse período é substancialmente maior que o tempo gasto em resumos de IA, que geralmente recebem apenas alguns segundos de atenção antes que os usuários rolem para os resultados orgânicos tradicionais.
A diferença está na natureza da experiência. Enquanto os resumos de IA funcionam como sínteses informativas acima dos resultados tradicionais, o AI Mode opera como um ambiente completo e autossuficiente.
Outro aspecto revelador do estudo foi a análise de quando os usuários decidem clicar para sites externos. Das 250 tarefas analisadas, 77,6% resultaram em zero visitas externas. Os poucos cliques registrados concentraram-se em duas tarefas específicas de natureza transacional.
A tarefa de comprar uma “canvas bag” gerou 44 cliques externos, enquanto a de organizar cabos na mesa de trabalho resultou em 31 cliques. Juntas, essas duas tarefas representaram dois terços de todos os cliques externos do estudo.
A visibilidade de marca surge como nova moeda online
A transformação do zero-click de exceção para regra redefine o valor da presença na internet. Durante anos, os profissionais de marketing digital mediram o sucesso através de métricas como tráfego, pageviews e conversões diretas. O AI Mode estabelece um novo paradigma onde a visibilidade e a autoridade de marca tornam-se ativos mais valiosos que os cliques propriamente ditos.
O estudo documentou comportamentos específicos que ilustram essa mudança. Os participantes formavam opiniões sobre produtos e marcas baseados nas informações apresentadas no AI Mode.
Um exemplo revelador ocorreu durante avaliações de produtos, onde um participante declarou que escolheria determinado produto baseado nas avaliações positivas mencionadas na resposta da IA. Ou seja, sem sentir necessidade de verificar essas informações no site original.
Essa mudança comportamental tem implicações importantes para as estratégias de marketing digital. As marcas não aparecem mais apenas como links azuis em páginas de resultados.
Elas são mencionadas, contextualizadas e avaliadas dentro de narrativas geradas por inteligência artificial. A qualidade e o contexto dessas menções tornam-se mais importantes que o posicionamento nos rankings tradicionais.
O conceito de formação de preferências ganha nova dimensão neste contexto. Os usuários desenvolvem preferências e tomam decisões de compra baseados em como as marcas são apresentadas nas respostas de IA.
Isso significa que as empresas precisam considerar não apenas como são indexadas, mas como são compreendidas e representadas pelos sistemas de inteligência artificial.
O Generative Engine Optimization (GEO) surge como disciplina importante para a nova era da busca
O Generative Engine Optimization (GEO) se tornou uma necessidade estratégica conforme os sistemas de IA dominam a descoberta de informação. Diferentemente do SEO tradicional, que foca nos sinais de relevância para algoritmos de ranking, a GEO concentra-se em construir presença e autoridade que os sistemas de inteligência artificial possam identificar, compreender e referenciar.
O estudo revelou padrões específicos sobre como o AI Mode seleciona e apresenta as informações. Para consultas comparativas, como “Ramp vs Brex” ou “Oura Ring vs Apple Watch”, o sistema prioriza sites de review e análise.
Já para buscas transacionais, as páginas de produto e os marketplaces dominam as referências. Essa segmentação por tipo de site e intenção de busca é muito mais rígida que no SEO tradicional.
A importância da GEO fica ainda mais evidente quando consideramos a decomposição de consultas realizada pelo AI Mode. O sistema não processa as perguntas de forma linear. Uma consulta sobre “melhor SUV elétrico” pode ser decomposta em dezenas de subconsultas sobre autonomia, preço, avaliações, comparações e especificações técnicas. Cada uma dessas subconsultas busca informações específicas que são então sintetizadas na resposta final.
Essa mecânica de decomposição e síntese exige que os conteúdos sejam otimizados não apenas para as palavras-chave principais, mas para todo o espectro de questões relacionadas. A autoridade temática torna-se mais importante que os rankings para termos específicos. Os sistemas de IA favorecem as fontes que demonstram expertise profunda e verificável sobre os tópicos, não apenas páginas otimizadas para consultas individuais.
As implicações práticas redefinem as estratégias de presença digital
As descobertas do estudo apontam para a necessidade urgente de repensar as métricas e os objetivos de marketing digital. Os KPIs tradicionais como posição média, CTR e mesmo conversões diretas tornam-se insuficientes para capturar o valor real da presença digital. Além disso, as novas métricas precisam contemplar a frequência e a qualidade de menções em respostas de IA, o sentimento dessas referências e a cobertura temática em diferentes tipos de consultas.
O padrão de interação identificado no estudo sugere que os usuários tratam o AI Mode como destino final, não como porta de entrada para websites. Isso é verdadeiro para consultas informacionais e comparativas. Apenas as consultas com clara intenção transacional, onde os usuários precisam completar uma ação específica como adicionar item ao carrinho, ainda geram cliques consistentes.
Para publishers e criadores de conteúdo, o desafio torna-se ainda mais complexo. O modelo tradicional baseado em audiência e pageviews enfrenta uma pressão existencial. O estudo mostrou que mesmo os conteúdos extensivamente citados e utilizados pelo AI Mode podem gerar zero tráfego para os sites originais. Isso força a reconsideração dos modelos de negócio e das estratégias de monetização.
A personalização extrema das respostas adiciona outra camada de complexidade. O AI Mode considera o histórico de busca, o comportamento do usuário, a localização e diversos outros fatores para personalizar não apenas quais informações apresentar, mas como estruturar a narrativa da resposta. Dois usuários fazendo a mesma pergunta podem receber respostas substancialmente diferentes, tornando impossível prever ou controlar como uma marca será apresentada.