A AdWeek publicou na segunda-feira, 8 de dezembro, que o Google informou anunciantes sobre planos de trazer publicidade ao aplicativo Gemini em 2026.
Dan Taylor, vice-presidente global de anúncios da empresa, negou a informação no X. Segundo ele, não há anúncios no aplicativo Gemini e não existem planos atuais para implementá-los. A contradição entre o relatório da AdWeek e a negação oficial expõe as tensões sobre a monetização da inteligência artificial.
A publicação afirma que representantes da empresa indicaram em ligações com pelo menos dois clientes que os anúncios no Gemini estão programados para 2026. Os compradores de mídia disseram não ter visto protótipos, formatos ou precificação.
O momento chama atenção. A OpenAI anunciou na semana anterior que adiou os planos de publicidade no ChatGPT após declarar “código vermelho” interno. Sam Altman, CEO da empresa, orientou as equipes a priorizar melhorias no produto diante do avanço do Gemini.
A negação do Google pode representar uma estratégia de contenção de danos ou posicionamento competitivo. Por sua vez, a distinção entre os produtos de IA da empresa complica a análise.
O aplicativo Gemini permanece sem anúncios, enquanto o AI Mode já exibe publicidade desde agosto de 2025. Essa confusão entre essas ferramentas dificulta a compreensão de onde a monetização ocorre.
A negação oficial e suas implicações
Dan Taylor publicou no X que o relatório se baseia em “fontes anônimas desinformadas que fazem afirmações imprecisas”. A conta oficial AdsLiaison reforçou a negação. A formulação “não há planos atuais” deixa margem para mudanças futuras, mas estabelece uma posição clara no momento.
Além disso, a Search Engine Land reportou que os anunciantes descreveram as conversas com a empresa como exploratórias e sem detalhes técnicos. A ausência de protótipos ou especificações sugere discussões preliminares. A diferença entre a exploração de possibilidades e o compromisso de lançamento é relevante para o mercado publicitário.
Por outro lado, a negação pública pode funcionar como contenção de danos após um vazamento prematuro. As empresas de tecnologia testam reações do mercado por meio de vazamentos antes dos anúncios oficiais. A resposta negativa dos usuários a anúncios em experiências conversacionais pode ter motivado o recuo, mesmo que as discussões internas continuem.
Diferenciação técnica entre produtos de IA da empresa
O ecossistema de inteligência artificial da empresa opera por meio de três produtos distintos. A compreensão dessas diferenças é necessária para avaliar onde a monetização ocorre e onde pode ocorrer.
O aplicativo Gemini funciona como um chatbot independente, similar ao ChatGPT. Os usuários acessam a ferramenta por meio de um aplicativo móvel ou interface web dedicada. A experiência é conversacional, sem integração com os resultados de busca tradicionais. O produto permanece sem anúncios desde o lançamento.
Já o AI Mode representa uma experiência de busca conversacional integrada ao Google Search e ao Chrome. A ferramenta combina as capacidades do Gemini 3 com os sistemas de informação da empresa. Os usuários ativam o modo por meio de um botão de alternância na interface de busca. O AI Mode exibe anúncios desde agosto de 2025, conforme reportado pela Conversion.
Enquanto isso, os AI Overviews aparecem como resumos gerados por IA no topo das páginas de resultados de busca. A funcionalidade utiliza um modelo Gemini customizado que trabalha com os sistemas de qualidade e ranking da empresa. Os resumos são estáticos, sem possibilidade de interação. Os anúncios aparecem nos AI Overviews desde a expansão da funcionalidade.
A arquitetura técnica difere entre os produtos. O aplicativo Gemini processa consultas de forma independente, sem acesso aos sistemas de indexação e ranking da busca. O AI Mode integra o modelo Gemini com a infraestrutura de busca existente, permitindo acesso a informações atualizadas. Os AI Overviews operam como uma camada adicional sobre os resultados de busca tradicionais.
Por sua vez, a monetização segue a arquitetura técnica. Os produtos integrados à busca tradicional herdam o modelo de anúncios estabelecido. O aplicativo Gemini, operando de forma independente, não possui infraestrutura publicitária integrada. A implementação de anúncios exigiria o desenvolvimento de um sistema separado para segmentação, leilão e mensuração.
O contexto competitivo e o momento estratégico
A OpenAI declarou “código vermelho” interno após o lançamento do Gemini 3 e a expansão do AI Mode. Sam Altman enviou um memorando aos funcionários orientando a priorização de melhorias no ChatGPT. A empresa adiou os planos de publicidade que estavam em testes, segundo a reportagem da Fast Company Brasil.
O adiamento da OpenAI cria uma oportunidade para a empresa se diferenciar. Se o ChatGPT implementasse anúncios primeiro, o Gemini poderia se posicionar como alternativa sem publicidade. A inversão muda a dinâmica competitiva. A empresa enfrenta pressão para monetizar os investimentos em IA, mas pode capitalizar a decisão da OpenAI.
A controvérsia surge quando essa janela competitiva se abre. O momento sugere que as discussões internas sobre a monetização do Gemini podem ter vazado prematuramente. A negação pública permite à empresa manter flexibilidade estratégica enquanto observa os movimentos da OpenAI e as reações do mercado.
Além disso, a pressão por monetização afeta todas as empresas de IA. O desenvolvimento e a operação de modelos de linguagem exigem investimentos em infraestrutura e pesquisa. A OpenAI reportou perdas operacionais, motivando a busca por receita. A empresa de Mountain View possui vantagem por integrar a IA ao negócio de busca já lucrativo, mas precisa justificar os investimentos crescentes.
Oportunidade para marcas brasileiras no ambiente orgânico
O aplicativo Gemini permanece 100% orgânico, criando uma janela de oportunidade para as marcas construírem visibilidade sem depender de mídia paga. A ausência de anúncios significa que todas as menções nas respostas resultam de autoridade e relevância do conteúdo. As empresas que investem em GEO podem ganhar posicionamento antes que a monetização altere a dinâmica.
A estratégia difere do SEO tradicional em aspectos centrais. O Gemini não apresenta uma lista de links ranqueados, mas sintetiza informações de múltiplas fontes em uma resposta única. A otimização foca em ser citado como fonte confiável, não em alcançar a primeira posição. A construção de autoridade temática verificável torna-se mais importante que a otimização de palavras-chave.
Por outro lado, a estruturação de conteúdo em passagens independentes facilita a extração por sistemas de IA. O Gemini identifica e combina trechos que respondem a componentes de consultas complexas. Os parágrafos autocontidos com informações verificáveis aumentam a probabilidade de seleção. A implementação de dados estruturados avançados permite que o modelo compreenda os relacionamentos entre entidades e contextos temporais.
Além disso, a criação de conteúdo multimodal representa um diferencial competitivo. O Gemini processa texto, imagem, vídeo e áudio de forma integrada. As empresas que oferecem informações em múltiplos formatos ampliam as chances de serem selecionadas como fontes. Os infográficos, demonstrações em vídeo e explicações visuais complementam textos e enriquecem as respostas geradas.
A cobertura ampla de tópicos relacionados estabelece autoridade temática. Não basta criar conteúdo sobre os termos principais. É necessário abordar variações, comparações, casos de uso e aspectos adjacentes. Essa cobertura permite que o sistema identifique a empresa como fonte confiável durante a análise de consultas.
Enquanto isso, o mercado brasileiro tem vantagem temporal. O AI Mode chegou ao Brasil em setembro de 2025, mas o roteamento automático do Gemini 3 Pro ainda não está disponível. As empresas podem testar estratégias e ajustar abordagens antes da expansão completa. A preparação antecipada constrói vantagem competitiva quando a adoção se intensificar.
Modelos de monetização alternativos preservam a experiência
A empresa monetiza o Gemini por meio de assinaturas premium, não de publicidade. O plano Google One AI Premium oferece acesso ao Gemini Advanced com modelo mais capaz. O Google AI Plus e o Google AI Ultra fornecem acesso ao Gemini 3 Pro e recursos avançados. As empresas pagam pelo uso das APIs do Gemini via Google Cloud Vertex AI.
Os modelos de assinatura alinham os incentivos entre a empresa e os usuários. A receita depende do valor percebido do produto, não do engajamento com anúncios. Isso motiva a empresa a melhorar as capacidades do modelo e a qualidade das respostas. A ausência de publicidade preserva a percepção de neutralidade necessária para a confiança em assistentes de IA.
Por outro lado, a integração de anúncios em experiências conversacionais degrada a confiança. Os usuários esperam que os assistentes de IA forneçam informações imparciais, não recomendações influenciadas por interesses comerciais. A distinção entre resposta orgânica e conteúdo patrocinado é mais difícil em diálogos que em listas de resultados. Essa ambiguidade prejudica a credibilidade do sistema.
O modelo de busca tradicional funciona porque os anúncios são separados dos resultados orgânicos. Os usuários compreendem a diferença e ajustam as expectativas conforme o contexto. Em conversas com IA, a separação é menos evidente. A integração de publicidade em respostas conversacionais pode fazer com que os usuários questionem se todas as recomendações são confiáveis.
A experiência do AI Mode ilustra os desafios. A empresa implementou anúncios em agosto de 2025, mas a adoção permanece limitada. Os usuários que valorizam respostas imparciais podem preferir o aplicativo Gemini ou migrar para alternativas sem publicidade. A fragmentação entre produtos com e sem anúncios reflete a tensão entre monetização e experiência do usuário.
Além disso, a OpenAI enfrenta dilema similar. A empresa precisa gerar receita, mas Sam Altman reconheceu que os anúncios em chatbots são “perturbadores”. O adiamento dos planos de publicidade sugere que a OpenAI prioriza a preservação da experiência enquanto explora alternativas. A decisão pode fortalecer o posicionamento do ChatGPT como ferramenta confiável.
A incerteza permanece sobre o futuro da monetização
A formulação “não há planos atuais” na negação da empresa deixa margem para mudanças futuras. As empresas de tecnologia revisam as estratégias de monetização conforme os produtos amadurecem e as dinâmicas de mercado evoluem. A ausência de planos hoje não garante a ausência de planos amanhã.
A pressão por receita continuará crescendo. O desenvolvimento de modelos de IA exige investimentos que precisam ser justificados. Se os modelos de assinatura não gerarem receita suficiente, a publicidade pode voltar à discussão. A decisão dependerá da análise entre receita potencial e impacto na experiência do usuário.
Por sua vez, a reação do mercado aos anúncios no AI Mode fornecerá dados para as decisões futuras. Se os usuários aceitarem publicidade em experiências de busca conversacional, a resistência aos anúncios no aplicativo Gemini pode diminuir. Se a adoção do AI Mode sofrer devido aos anúncios, a empresa terá evidência de que a monetização direta prejudica o crescimento.
As marcas devem se preparar para ambos os cenários. A construção de autoridade orgânica funciona independentemente da presença de anúncios. As empresas citadas como fontes confiáveis pelo Gemini mantêm visibilidade mesmo se a publicidade for implementada. A preparação para um ambiente sem anúncios não impede a adaptação posterior a um ambiente com publicidade.
A competição entre as empresas influenciará as decisões de monetização. Se uma empresa implementar anúncios e perder usuários para um concorrente sem publicidade, o modelo será validado ou refutado. A dinâmica competitiva pode forçar a convergência em direção ao modelo dominante, seja baseado em assinaturas ou em publicidade.
Por fim, a evolução da monetização de IA está em fase inicial. As empresas testam diferentes abordagens enquanto o mercado define as preferências. A incerteza atual reflete a experimentação necessária para descobrir modelos sustentáveis. As decisões tomadas nos próximos meses estabelecerão padrões que influenciarão a indústria por anos.