O Google pode estar próximo de transformar seu AI Mode na experiência padrão de busca.
Logan Kilpatrick, gerente de produto da empresa, sugeriu nas redes sociais que a mudança acontecerá “em breve”, intensificando debates sobre o futuro das buscas online. Contudo, a declaração foi posteriormente desmentida por executivos da empresa, evidenciando contradições internas que preocupam os publishers há tempos.
A possível implementação do AI Mode como padrão representa um marco na evolução dos mecanismos de busca. Por outro lado, as informações conflitantes vindas do Google levantam questões sobre transparência e comunicação da empresa.
Publishers, que já enfrentam quedas significativas de tráfego devido aos AI Overviews — veem nessas contradições um padrão preocupante de falta de clareza sobre mudanças que impactam diretamente seus negócios.
O AI Mode utiliza uma técnica chamada “query fan-out”, que executa múltiplas buscas relacionadas simultaneamente em diferentes fontes. Essa abordagem oferece respostas mais abrangentes que a busca tradicional, mas também reduz significativamente os cliques direcionados aos sites originais.
Dados da Conversion mostram que AI Overviews já causaram 35% de queda no CTR em buscas no Brasil, sinalizando o impacto potencial de uma implementação mais ampla.
Contradições internas evidenciam falta de transparência
A declaração inicial de Kilpatrick foi rapidamente contradita por Robby Stein, vice-presidente do Google, que recomendou “não levar a sério” a afirmação do colega. Stein enfatizou que a empresa está focada em facilitar o acesso ao AI Mode para quem deseja utilizá-lo, sem indicar mudanças no padrão atual.
Essa contradição pública ilustra um problema recorrente apontado por publishers: a falta de comunicação clara sobre mudanças que afetam o ecossistema digital. Publishers independentes já manifestaram preocupações formais sobre a transparência do Google.
Em julho, um grupo de editoras apresentou queixa antitruste contra os AI Overviews, alegando uso indevido de conteúdo web. As empresas argumentam que o Google utiliza seus conteúdos para gerar respostas de IA sem compensação adequada ou transparência sobre como o material é processado e utilizado.
A falta de transparência se estende também às métricas disponibilizadas pelo Google. Dados do AI Mode não são facilmente rastreáveis no Search Console, sendo agrupados com buscas tradicionais. Isso dificulta a análise de impacto por parte dos publishers, que precisam compreender como suas audiências estão sendo afetadas pelas mudanças na interface de busca.
A competição do AI Mode contra o ChatGPT
O desenvolvimento do AI Mode representa a resposta natural do Google à crescente competição no mercado de busca inteligente. O ChatGPT já processa 20 milhões de buscas diárias. Embora o Google ainda seja 373 vezes maior que o ChatGPT, essa diferença está diminuindo rapidamente, forçando a empresa a acelerar inovações em IA.
A integração de funcionalidades avançadas no AI Mode demonstra essa pressão competitiva. O sistema agora inclui capacidades multimodais, permitindo buscas por texto, voz e imagem. Além disso, parcerias com OpenTable, Resy e Ticketmaster expandem as capacidades transacionais, transformando o buscador em plataforma de ação direta.
O Google também anunciou que google.com/ai agora direciona usuários diretamente ao AI Mode, eliminando a necessidade de navegar pela interface tradicional. Essa mudança sinaliza a intenção da empresa de popularizar o novo formato, mesmo que ainda não seja o padrão oficial. A estratégia reflete a urgência de competir com interfaces conversacionais que se tornaram populares através do ChatGPT e outras plataformas de IA.
Orquestração das buscas é o futuro
O futuro do SEO não está apenas nas IAs, mas na orquestração de múltiplos canais de busca. Para médias e grandes empresas, isso significa integrar estratégias tradicionais de SEO com GEO (Generative Engine Optimization), disciplina focada em otimização para engines de IA generativa. Essa abordagem híbrida reconhece que diferentes tipos de busca atendem a necessidades distintas na jornada do consumidor.
O GEO complementa, não substitui, o SEO tradicional. Enquanto o SEO busca posicionamento em listas de resultados, o GEO visa integração direta nas respostas geradas por IA. Isso exige estruturação de conteúdo em “chunks” facilmente extraíveis, foco em Branding Semântico e construção de autoridade temática que seja reconhecida pelos modelos de linguagem.
A Orquestração das Buscas exige pensamento sistêmico que reconhece interconexões entre canais. O sucesso em uma plataforma pode amplificar resultados em outras, mas requer coordenação cuidadosa para evitar canibalização. As empresas que dominarem essa complexidade terão vantagem significativa sobre aquelas que continuam focando apenas em otimização isolada para cada plataforma.
Impactos do AI Mode para publishers
Os publishers enfrentam desafios sem precedentes com a expansão das funcionalidades de IA do Google. Estudos indicam que buscas com AI Overviews resultam em 47% menos cliques para sites externos. Com a possível implementação do AI Mode como padrão, essa tendência pode se acelerar significativamente, forçando publishers a repensar modelos de negócio baseados em tráfego orgânico.
A questão da compensação permanece em aberto. Diferentemente de acordos tradicionais de licenciamento, o Google utiliza conteúdo de publishers para treinar seus modelos sem compensação direta. Isso cria tensão crescente entre a empresa e criadores de conteúdo, que veem suas informações sendo utilizadas para gerar respostas que mantêm usuários dentro do ecossistema Google.
Publishers também enfrentam dificuldades para mensurar o impacto real das mudanças. A falta de métricas específicas no Search Console impede análises precisas sobre como o AI Mode afeta diferentes tipos de conteúdo. Essa opacidade dificulta ajustes estratégicos necessários para adaptar-se ao novo cenário.
Preparação para o futuro das buscas
A transformação em curso exige mudança fundamental de mentalidade por parte de empresas e profissionais de marketing. Os cliques vão diminuir drasticamente na próxima década, mas se tornarão exponencialmente mais valiosos. Marcas que prosperarão serão aquelas que dominarem tanto o SEO quanto a nova ciência do GEO.
A implementação bem-sucedida requer ações específicas e mensuráveis. Primeiro, não ignorar a mudança, pois dados mostram crescimento real do tráfego de IA. Segundo, começar gradualmente, implementando o GEO sem abandonar práticas de SEO que já funcionam. Terceiro, medir tudo, configurando tracking para novos canais desde agora.
O desenvolvimento de conteúdo único e indispensável torna-se diferencial competitivo crucial. Ferramentas interativas, estudos baseados em dados proprietários e análises exclusivas não podem ser facilmente replicadas por concorrentes ou sintetizadas por IAs. Essa estratégia protege o valor enquanto mantém relevância no novo ecossistema de busca.
A questão fundamental que toda marca deve fazer é: “O modelo vai se lembrar de você?”. No mundo onde IA é cada vez mais a porta de entrada para descoberta e comércio, a resposta a essa pergunta determinará o sucesso futuro. A mudança já começou, e organizações que não se adaptarem rapidamente se tornarão invisíveis na era da IA.